Flor de maio medicinal

A flor de maio outonou. E assim me lembrou de quão limitada é a ideia de que o florescimento é ato de expiração.

Que as primaveras expressam é fato. Mas procuro ver a beleza do que floresce ao se encher os pulmões de ar, inspiração. Florescer para dentro. Minha brnquite é não conseguir encher-me de toda a vida florescente (fluorescente?) que iluminaria meus interiores. Minha bronquite bloqueia esse ar e me conta: há muitos espaços a serem iluminados, há muitos cômodos aqui, muitos cantos sombrios, é preciso mais ar. Minha flor de maio está ao lado do gengibre. Raiz que minha avó me ensinou a tomar ao menor sinal de falta de ar. Picância, ardido. Amarelo. Luz dentro de mim, aerar, aquecer o que está úmido. Secar. A poção ainda contem outros ares:
1. mel que traz consigo o vento das asas de abelhas, das colméias, fraternidade de muitas irmãs que produzem doçuras, trabalho, orientação no ar, buscar flores e belezas, temperar com muitas flores, polinizar.
2. limão que traz um fresco azedume, verdura e perfume. Limpeza frutada, que queima ao sol, que espirra e arde os olhos. No limoeiro que tive em casa sempre havia um limão, sempre, ano inteiro, dia ou noite. Generosidade.
3. Água, que limpa tudo, que dissolve tudo e carrega tudo. Fluxo, acha um caminho, com gentileza contorna, vaza, resiliente. Com força, persistência, desbloqueia. Dissolve, contorna, ensina o ar a passar, força um pouco, fluidifica.
4. Fogo. Ilumina e aquece. Minha avó vinha com a xícara de chá fumegando. Me ensinou a aquecer as mãos e a tomar de golinhos. O chá descia queimando minha língua, minha garganta, minha barriga. Meus pulmões. O fogo do acolchoado pesado, exercitando meus músculos para conseguir respirar, forçando, resistência. Apertando, força adentro. O fogo da lâmpada de sódio alaranjada que invadia o quarto em penúmbra. As penumbras da minha alma precisavam aprender daquele quarto a receber a luz laranja, que vinha do chá, que vinha do amor de minha avó, que vinha nos sonoros passos, chac chac chac, dos chinelos dela, na lida da cozinha. Colchão de molas.
A cada outono, tenho que reaprender a descer nos escuros cômodos de mim. Faço o chá de gengibre, forço respirar e me ascender, florescer pra dentro.
Hoje a flor de maio floresceu, e medicinalmente me lembrou de quanto é dificil e necessário respirar.

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